Resenha: A Velha Senhora, de Simenon

quarta-feira, 16 de março de 2016



Ahh, que saudade que eu estava de romances policiais! Amo desde sempre, comecei a ler Agatha com 12 anos e todo aquele blá-blá-blá que eu já cansei de repetir aqui, mas andava afastada do gênero. Eis que A Velha Senhora, do Georges Simenon, me trouxe de volta. Foi meu primeiro policial de 2016 e devo dizer que a leitura foi bastante prazerosa, embora não tão surpreendente quando eu esperava.

A sinopse é bastante peculiar: o comissário Maigret é procurado por uma velha senhora, de aparência angelical e inofensiva, para investigar quem poderia estar tentando matá-la. Porque, sim, ela está convencida de que sua empregada havia sido assassinada em seu lugar na noite anterior, e ela ansiava por descobrir quem poderia estar por trás disso. Como é muito difícil negar o pedido de uma velhinha, Maigret se encarrega do caso e parte em busca do criminoso. Mas novos acontecimentos  vão se interpondo, outras mortes acontecem e o caso, que parecia ser simples, acaba se tornando muito mais complexo do que o comissário imaginava. 

A estrutura é do romance policial clássico, nada de novo sob o sol. O que acho interessante em Simenon é que geralmente ele consegue fazer uma construção boa de personagem, e eu consegui enxergar as peculiaridades de cada personagem envolvido enquanto lia, visto que Georges Simenon faz um retrato rebuscado de cada elemento de sua história, com maestria. A atmosfera criada pelo autor também é excelente! Aliás, a maneira como a trama se desenrola é bem envolvente, e por diversas vezes eu me empolgava tanto durante a leitura no horário de almoço que acabava me atrasando para voltar ao trabalho. Quem nunca, né? 

O livro é bem curtinho, mas não decepciona. Devorei-o em poucos dias e foi ótimo para acabar com uma ressaca literária que estava querendo se instalar por aqui. Mas, como nem tudo são flores, preciso dizer que o final do livro não me surpreendeu. Eu adivinhei quem era o assassino com facilidade e, quando isso acontece, sempre fico em dúvida: será que devo me alegrar por ser sagaz o bastante para adivinhar o final do livro, ou devo me chatear porque o autor não conseguiu me deixar de queixo caído? Dúvida cruel de todo leitor de romances policiais, vamos combinar. 

De qualquer maneira, não foi um livro ruim de maneira alguma, recomendo a leitura de A Velha Senhora para quem é fã dos policiais das antigas, porque ele traz todos os elementos tradicionais do gênero que a gente ama. O meu é uma edição antiguinha e graciosa do Círculo do Livro que veio do sebo, mas existe uma edição de bolso da L&PM à venda em livrarias.

E você, já leu algum livro Simenon? Tem algum para me recomendar?  
Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.





She dreamed of Paradise

quinta-feira, 10 de março de 2016
everytime she closed her eyes...




(Para ler escutando Coldplay. Obrigada, de nada) 




Nos últimos tempos eu tenho estado bastante pensativa em relação às expectativas que a gente cria e que, via de regra, acabam não se realizando. Eu não sei se ando especialmente desgostosa com a minha carreira e com a minha vida ou se todo mundo passa por isso em algum momento, mas fato é que, do alto dos meus 28 anos recém-completos, eu ainda me sinto frustrada com quem me tornei. Não que tenha algo errado comigo. Ao contrário, o problema é que me tornei uma mulher comum, quando tudo que eu jamais quis na vida foi ser comum.

Não é que eu queira encarnar o meme da diferentona, nem nada. É só que passei toda a infância escutando sobre o quanto eu era promissora, o quanto me achavam superinteligente, só porque eu lia, quantas maravilhas eram esperadas de mim, quando crescesse. Parecia um bom plano, exceto pela parte em que nunca se tornou realidade. Eu pareço ser daquelas pessoas que fica sempre "na promessa", na expectativa de um sucesso que jamais chega. Eu, que na verdade nunca fui tão inteligente assim, e tenho problemas sérios de relacionamento e zero skills no trato com pessoas, acabei me tornando uma adulta bem comum, bem diferente do prodígio que sempre se esperou de mim.

E eu penso que é a expectativa que fode estraga tudo, sabe? Quando eu penso na Fabiola de 10 anos atrás, sinto no íntimo que ela não se orgulharia da pessoa que acabou se tornando. Porque ela tinha tantos sonhos, pensava em participar da construção de um mundo melhor, esperava se formar e ganhar o mundo, construir uma carreira e se tornar o que costumamos chamar de pessoa bem-sucedida. E, no fim das contas, não é que eu seja um fracasso total comparada às minhas amigas, que estão mais ou menos no mesmo barco da falta de perspectiva. Mas estou bem aquém do que eu esperava que viesse a ser. E a quebra das expectativas dói na alma e no ego. 



"When she was just a girl she expected the world
But it flew away from her reach and the bullets catch in her teeth"

Eu queria ser tanta coisa, e sinto que, no fim, não sou nada. Não sei se ainda dá tempo de começar tudo de novo e virar protagonista da minha própria vida, coisa que nunca fui de verdade, ou se os sonhos envelhecem e perdem a força conforme a gente cresce. Talvez, apenas talvez,  ainda dê tempo de sonhar com o paraíso e correr atrás de torná-lo real. Quem sabe? 



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Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.
 
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