O que eu achei de O peso do pássaro morto

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020


Como já havia vaticinado Elizabeth Bishop, A arte de perder não é nenhum mistério, mas pode servir como inspiração para gratas surpresas da literatura nacional contemporânea. O peso do pássaro morto, de Aline Bei (Editora Nós) é um livro inovador que surpreende os leitores desde a premissa, e não nos decepciona ao chegar às últimas páginas. 

A obra saiu vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018 na categoria Melhor Romance de Autor com Menos de 40 anos, e parte de uma proposta simples: a de contar a história de uma mesma mulher, dos oito aos 52 anos. O pronome indefinido empregado neste texto não é por acaso, pois a personagem principal da narrativa não tem nome nem rosto. Assim, ela pode representar cada uma de nós, mulheres que, cada qual à sua maneira, passamos por perdas sortidas durante a vida. 

Ao longo dos anos, a personagem principal passa por diversas provações. Enfrenta situações absurdas de misoginia, violência, e um sem número de pequenas tragédias pessoais e decepções que, pouco a pouco, acabam convencendo-a de que a cura não existe e que não há nenhum remédio amargo o bastante para aliviar as dores da vida. Os temas da perda e da solidão são os fios condutores do romance, e acompanham a protagonista de perto, ano após ano.

O livro de estreia de Aline Bei é uma deliciosa prosa poética, sem a estruturação normativa em parágrafos com a qual o leitor e a leitora provavelmente estão acostumados (as) mas, ainda assim, mantendo certa linearidade. A autora passeia por diversos gêneros e chega a flertar com o realismo fantástico, sem nunca deixar de soar dolorosamente direta e realista ao narrar os fatos mais chocantes.  

Com uma série de experimentos bem sucedidos, tanto na forma quanto no conteúdo, a escrita da autora é extremamente sensível, para contrapor à narrativa densa e impactante. O peso do pássaro morto é um début de leitura rápida e digestão lenta, destinado para leitores que tenham estômago forte e fome de histórias que consigam a façanha de chocar e encantar na mesma medida. 

Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.
 
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