Sobre ser mulherzinha

terça-feira, 17 de maio de 2011
As coisas são engraçadas. 90% das pessoas afirmam que são contra rótulos, que estes devem ser destinados à vidros de geléias, e não a seres humanos, e outras frases estilo para-choque de caminhão como estas. Porém, muitas vezes, inconscientemente, elas próprias acabam se auto-rotulando, e, pior, vivendo presas a estes rótulos, de modo que existe gente que é praticamente um estereótipo ambulante. E, para mim, este é o tipo de coisa que não faz o menor sentido, já que estou longe de querer ser uma pessoa só: sou muitas, e ao mesmo tempo.

Na faculdade, tive uma professora que se encaixava perfeitamente nesse caso. Ela gostava de "falar difícil",  só ria das próprias piadinhas e não tinha um pingo de vaidade. Estava sempre com a cara lavada, o cabelo ressecado e com meio metro de raiz branca aparecendo, unhas mal-tratadas. Nunca vi a criatura usando sequer um batom. E, como eu não presto eu sou uma pessoa extremamente crítica, sempre que fazia algum comentário sobre a aparência da dita-cuja, alguém vinha com alguma desculpa para ela não se cuidar: "Ah, mas ela é muito inteligente" - diziam eles. Ok, é inteligente, tem mestrado, já publicou livros, e tudo isso é muito admirável. A questão é que eu não acho que cuidar da aparência e cuidar do intelecto sejam coisas excludentes. Por mais ocupada que a pessoa seja, dez minutinhos que se perca toda manhã,  ao menos para dar um jeito nasfuça, pentear o cabelo e passar um batonzinho não são tão prejudiciais. Mas as pessoas parecem achar que isso é "coisa de mulherzinha", e que não condiz com o comportamento de uma intelectual, de uma professora, ou do que quer que seja.

É óbvio que não estou dizendo que toda mulher tem que ser vaidosa, porque cada um faz o que quer da própria vida. Há dias em que eu mal tenho saco de me pentear, quanto mais de passar creminhos e me maquiar. O que me incomoda, porém, é essa idéia generalizada de que cuidar de si mesma e se preocupar com a aparência é coisa de gente fútil e desocupada. Não, não é. É coisa de gente que se gosta e que quer se sentir bem. Ter seu lado "mulherzinha" e seu lado super-mulher podem, e devem coexistir. Eu ainda acho que o essencial é invisível aos olhos, mas creio que qualquer mulher, mesmo que secretamente, se sente um pouquinho mais feliz quando recebe um elogio inesperado. 

E eu acho que é um pouco por isso que o blog recebeu este nome, afinal. Tenho lá meu lado nerd, jogo video-game (mal, mas jogo), gosto de escrever, estou sempre com o Kindle dentro da bolsa para ter o que ler a qualquer momento, e gosto de assistir a filmes e séries que ninguém mais conhece. Mas nem por isso dispenso meus esmaltes, meus batons, e todas as outras cocotices que a gente tanto ama. E é dessa salada de assuntos que eu pretendo falar aqui, afinal, não consigo mesmo ser monotemática. =)
Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.

4 comentários:

  1. Xuxu, adorei o blog! Todo meu apoio para as cocotas nerds. Será que também sou uma? rsrs bjss

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  2. Bom retorno Fabiola! Tava com saudades dos teus textos!!! (:

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  3. Astrid: Que booom que gostou! E, sim, eu acho que vc também é uma cocota nerd hehe

    Clau: Obrigada pela visita. Talvez vc estranhe um pouco pq o perfil desse blog é bem diferente do antigo, mas ainda sou eu escrevendo, então o estilo, no fundo, deve ser o mesmo. :)

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  4. Oi
    Primeira vez aqui e estou amando
    :o)

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