Por um mundo com mais vadias

domingo, 28 de julho de 2013
Ontem aconteceu mais uma edição da Marcha das Vadias aqui no Rio, na praia de Copacabana. Foi a primeira da qual participei e tudo o que vi por lá me fez pensar que eu precisava abordar o assunto no blog. Entendo que não é a proposta do blog ser um espaço para falar de feminismo, mas, como o assunto faz parte de mim, e o blog é uma extensão de tudo o que eu penso, acho que a Marcha vale, sim, um post.



A origem da Marcha das Vadias foi o "conselho" dado por policiais a mulheres vítimas de estupro, orientando-as a "não se vestirem como vadias" para que não fossem estupradas, claramente transferindo a culpa do crime para a vítima, e não para o agressor. Desde então, passaram a ocorrer marchas internacionais em prol dos direitos das mulheres, que ficaram conhecidas como marchas das vadias (Slut Walks) em referência ao episódio. 

Entenda, portanto, que a Marcha das Vadias não é sobre sexo; é sobre direitos. Direito de andar com a roupa que bem entender, sem que isso seja interpretado como um "convite" para estupro. Direito de sair sozinha, à noite, e ainda assim ter sua integridade assegurada. Direito até mesmo sobre o próprio corpo, de  amar e dormir com quem bem entender, sem ser julgada e discriminada por isso. 

A causa cresceu e passou a englobar várias das lutas diárias femininas. Na edição deste ano, foram abordados temas tradicionais feministas, como o absurdo Estatuto do Nascituro (aka uma lei que dá mais direitos para o feto do que para a mulher, nos transformando em meras incubadoras), a cultura do estupro, a legalização do aborto e a homofobia. Mas surgiram também temas políticos, como os protestos contra o prefeito e o governador do Rio (♫ Sou feminista, sou radical, eu tô na rua para derrubar Cabral ). Foi emocionante ver o povo nas ruas aderindo ao movimento de tal forma que, quando deixamos a concentração havia meia dúzia de gatos pingados e, conforme a Marcha foi andando, uma multidão se juntou a nós. Que amanhã seja maior. ;)



Sinceramente? Foi lindo! Lindo ver mulheres, homens, transexuais, cadeirantes, todos lutando pelos direitos das mulheres. Lindo ver as mais corajosas desfilando de seios nus no frio atípico que estava fazendo no Rio. Lindo ver os ~looks-vadia~ simbólicos e super criativos. Lindo ver os cartazes, as faixas e as frases pintadas nos próprios corpos, todos lembrando que somos diferentes, mas que nossa luta é uma só. E eu, que sou discreta e fiz a ~vadia tímida~, me contentei em gritar a plenos pulmões, a fazer volume, a fazer coro.

Eu nunca fui o que as pessoas normalmente chamam  de "vadia", dentre tantos outros nomes criados para nos diminuir com base no comportamento sexual. Não sou entusiasta de sexo casual, de relações poligâmicas, e sempre fui mais de relacionamentos longos do que de one-night-stands. Ainda assim, não foram poucas as vezes em que fui chamada de puta, de vagabunda, de vulgar, nas ruas. Seja por falar o que penso sem papas na língua, por falar muito palavrão, por saber pensar por conta própria, ou por causas ainda mais banais, como uma discussão no supermercado ou uma briga no trânsito. Descobri muito cedo que, não importa o quão bem eu me comporte, quão "boazinha" ou "certinha" eu seja, sempre vai haver alguém para me apontar o dedo na rua e me chamar de "vadia". Então, aceito a alcunha.

Me senti, sim, representada pelas vadias lindas, que vão à luta ao invés de ficarem esperando sentadinhas que as coisas mudem. E digo mais, me senti meio vingada pelas tantas vezes em que me xingaram por aí, simplesmente por ser mulher, por remar contra a maré, e por fazer questão da minha liberdade, acima de tudo. Se ser livre é ser vadia,  eu sou vadia também. 

(As fotos que ilustram o post são de autoria do Bernardo Santos)
Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.

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