HQ para adultos: Persépolis, de Marjane Satrapi

terça-feira, 10 de dezembro de 2013
Engana-se quem pensa que os quadrinhos são necessariamente voltados para crianças. Não é de hoje que as HQs de teor adulto e politizado fazem sucesso entre os que já passaram da puberdade. Já na década de 60, Quino falava de assuntos sérios de maneira bem-humorada com sua simpática Mafalda. As graphic novels também se popularizaram por tratar de temas mais pesados, como é o caso de V de Vingança. Mas, a meu ver, uma das histórias em quadrinhos "de adulto" mais inovadora e brilhante é Persépolis, de Marjane Satrapi. Isso porque este livro nada mais é do que a biografia da autora… em formato de quadrinhos.



Marjane Satrapi é iraniana e, em Persépolis, narra suas memórias, desde quando era apenas uma menina de dez anos oprimida em um país onde as mulheres praticamente não tinham direitos, até crescer e se tornar uma mulher engajada, questionadora e bem-resolvida. Há momentos bem-humorados no livro mas as partes marcantes, sem dúvida, são as que envolvem os perrengues da vida de Marjane. Há umas passagens tão comoventes que nem o fato de serem narradas em formato de quadrinhos ameniza a tensão.

Convenhamos, a biografia de uma mulher iraniana pode ser tudo, menos banal. Ainda menina, a autora e protagonista do livro descobre que cresceria sem ter voz em uma sociedade sexista e opressora. Na adolescência, é enviada para a Europa e, então, passa a viver todo o tipo de experiências, desde a liberdade de poder andar nas ruas sem medo e sem precisar se esconder debaixo de véus, à solidão de estar em um país estranho, com uma cultura totalmente diferente e repleto de preconceito. Em certo momento da narrativa, ela inicia um processo de autodestruição, se envolvendo com drogas e quebrando a cara diversas vezes. Toda esta sequência é muito triste, mas necessário para que Marjane desse a volta por cima após voltar à sua terra.



Se eu fosse definir esta autobiografia em apenas uma palavra, seria bittersweet. A narrativa é leve, o traço do desenho é adorável e a leitura é divertida (é óbvio que o formato ajuda neste ponto), porém o livro tem passagens muito tocantes, que, de fato, provocam uma reflexão no leitor. Como já falei várias vezes aqui no blog, qualquer assunto referente à violência e humilhação de mulheres me deixa extremamente revoltada, então confesso que tive toda uma vontade de fechar o livro em vários momentos. Porém, continuei lendo até o fim, simplesmente porque é impossível resistir à narrativa de Sartrapi.

O livro é muito bom e quebra o paradigma de que histórias em quadrinho são necessariamente infantis. Recomendo muito, mesmo não sendo fã de biografias. Agora quero muito ler, da mesma autora, Bordados, livro que também fala sobre os dramas de se nascer mulher em uma sociedade sexista e controladora, e que promete ser rodeado de ironias. 

Para quem se interessou pelo enredo, eu indico também o filme homônimo, uma animação super fiel ao livro.



E você, gosta de histórias em quadrinhos “adultas”? Se tiver alguma para me indicar, me conta nos comentários!
Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.

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