2 moedinhas sobre se meter na vida alheia

segunda-feira, 11 de maio de 2015
Nos últimos dias ocorreram duas coisas curiosas e que, de algum modo, consegui relacionar em minha mente com um problema que eu vejo cada vez mais se disseminando por aí, como uma epidemia: as pessoas estão perdendo totalmente os limites quando o assunto é se intrometer na vida alheia. Elas se julgam tão acima do bem, do mal e da razão que acham que não basta ter uma opinião contrária, elas precisam forçar sua opinião contrária goela abaixo.



O primeiro episódio foi no ateliê da costureira. Levei um vestido para apertar e a costureira, que eu conheço há anos, veio logo com a afirmação: "nossa, mas como você emagreceu"! Respondi que ainda me faltavam uns sete quilos para perder, quando fui interrompida por uma velha intrometida senhora que exclamou a plenos pulmões: "não precisa, não, já tá bom, magra demais é feio". Respirei fundo, educada que sou, mas fiquei com vontade de retrucar dizendo que, para ser "magra demais" para a minha altura, eu teria que pesar uns 13 kg a menos, mas ok, guardei pra mim. 

E a conversa não parou por aí. Outra menina, que estava dentro do provador, me perguntou o que eu estava fazendo para emagrecer. Apenas dieta e muito exercício, disse eu. E aí, a nossa amiga intrometida atacou de novo: "essa garotada de hoje tá fazendo exercício demais, exercício demais não faz bem para a saúde". E euzinha, que nem faço parte do público-alvo "essa garotada" do alto dos meus 27 anos, mas não consigo ouvir asneira e ficar quieta, finalmente respondi: "olha, não vejo mal algum em exercício físico, pelo contrário, minha coluna está melhorando e me ajuda a ficar disposta e de bom-humor o dia todo". Silêncio no recinto. Deixei meu vestido para apertar e saí, com a certeza de que o mundo tem opiniões demais e bom-senso de menos, esses dias...

O segundo episódio foi em um domingo desses, em que eu caminhava preguiçosamente no calçadão quando me deparei com uma "passeata pela vida" na praia. Eram meia-dúzia de pessoas que claramente não entendiam o que a gente realmente defende quando se posiciona pró legalização do aborto. Até aí, morreu Neves. Afinal, estou cansada de saber que gente estúpida existe desde que o mundo é mundo. 

O que me deixou meio chocada é que, em cima do palanque, com o microfone na mão, falando as mais absurdas mentiras (tal como: "aborto é o pior ato de crueldade que se pode fazer com um ser humano". Sim, um "ser humano" que ainda não tem sistema nervoso nem sente dor, diga-se) estava um homem. Isso mesmo, um homem, que não tem útero, que jamais vai precisar passar por uma gravidez inesperada, que jamais vai ser forçado a carregar em seu corpo uma criança que não quer ou não pode ter. É o nosso corpo, nosso útero, nossa vida que está em jogo. Portanto, sim, é uma questão que se refere somente às mulheres. 

Quando eu vejo mulheres falando contra a descriminalização do aborto eu acho apenas leviano, nada que um pouco de estudo não pudesse resolver, mas quando eu vejo homens enchendo a boca para dizer que são contra o aborto porque "defendem a vida", olha... acho que é um egoísmo absurdo, pela simples razão de que eles não podem falar sobre algo pelo qual jamais passarão. Inclusive, se homens pudessem ficar grávidos, tenho bastante certeza de que o aborto já seria legal. Mas enfim, divago.

Fato é que tanto a senhorinha fuxiqueira quanto o idiota pró-vida tinham em comum o fato de acharem que suas opiniões eram tão importantes que se julgavam no direito de propagá-las por aí, mesmo sem que ninguém houvesse perguntado. Ambos se consideravam os senhores da razão, e qualquer pessoa que se mostrasse contrária precisa ser "convencida". Sei não, viu, mas acho que é um tipo de atitude que não deveria combinar com o século XXI.

E sim, este texto é um desabafo meio inútil, visto que as pessoas continuarão com a arte de se meter na vida dos outros e dar palpite sobre assuntos que não lhe dizem respeito. Para elas, meu apelo silencioso é: pelo bem de todos, usem mais o cérebro e menos a língua. A sociedade agradece. 


Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.

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