Cocota Nerd Lê: Ratos, de Gordon Reece

sexta-feira, 14 de março de 2014
Não é raro usar metáforas de animais para classificar as pessoas. Por exemplo, pessoas muito experientes são freqüentemente descritas como "dinossauros", pessoas fortes são comparadas a touros, gente com facilidade para se adaptar a adversidades e "ressurgir" das cinzas são conhecidas como fênixes (que, na verdade, nem existe, mas who cares?) e, neste contexto, Ratos seriam pessoas covardes, que se escondem na primeira dificuldade e são incapazes de lutar pelos seus objetivos. E são exatamente assim as personagens principais de Ratos, de Gordon Reece, publicado pela Intrínseca.



Shelley e sua mãe são ratos. Têm vergonha de tudo, medo de emitir opiniões, se submetem a coisas horríveis porque não cogitam perseguir seus interesses e confrontar outras pessoas, e são praticamente invisíveis na sociedade. Basicamente, o tipo de pessoa que eu desprezo na vida real e abomino na literatura #BichaMá. Enfim, elas convivem relativamente bem com isso e vivem suas vidinhas de roedores, até que uma série de acontecimentos acaba virando tudo de pernas para o ar.

Primeiro, Shelley começa a sofrer bullying no colégio, por ser quieta, gordinha, “desleixada” e boazinha demais. E note que não estou falando de apelidos maldosos ou coisas do tipo. É bullying com B maiúsculo, pesado, daqueles que deixam seqüelas. Qualquer pessoa normal tomaria providências, avisaria ao colégio, se queixaria com os pais. Mas Shelley não era uma pessoa normal, e sim um rato, então simplesmente agüentou tudo caladinha. Como desgraça nunca vem sozinha, nesse meio tempo os pais de Shelley se separaram, o pai abandonou ambas sem dinheiro nenhum, começou a desprezar a filha e elas começaram a passar por muitas dificuldades. 

Acha que não pode ficar pior? Pois bem, certo dia Shelley sofre um atentado no colégio que quase a mata, e obviamente a traumatiza para o resto da vida. É somente neste momento que sua mãe descobre sobre o bullying, a retira da escola e ambas se mudam para uma casinha longe da cidade, onde podem viver felizes, longe da sociedade, em uma espécie de conto de fada particular. Até que uma tragédia inesperada acontece e muda a vida de Shelley e sua mãe para sempre! E aí não posso contar mais nada, porque a graça é se surpreender a cada página virada!

Sério, eu devorei este livro! Lia no trânsito infernal da Barra da Tijuca quando trabalhava por lá e rezava para pegar engarrafamento, porque simplesmente precisava saber o final logo! E digo logo que gostei muito do desfecho, não imaginava o grand finale que iria ocorrer e fiquei muito satisfeita com a evolução das personagens ao longo da narrativa. 

Preciso falar que as duas personagens principais me irritaram horrores porque, como comentei no início do post, eu não tenho o menor apreço por gente fraca, covarde, que não vai à luta, então no início do livro eu tinha vontade de socar as duas a cada cinco linhas! Mas, conforme a história vai sofrendo revoluções, as suas personalidades acabam se modificando, e eu achei muito interessante a reação das personagens perante o drama que se instalou em suas vidas. Nunca é tarde para reagir, né?

Achei muito criativa a maneira como Gordon Reece utiliza a metáfora dos ratos ao longo de todo o texto para descrever suas personagens, fazendo com que o título e a linda capa façam ainda mais sentido. Gostei muito do estilo do autor e certamente ficarei de olho em suas obras daqui para frente. Outra coisa que amei foi o fato de o livro trazer à tona os perigos do bullying que, apesar de às vezes ser encarado com leviandade, é algo cruel e muitas vezes tem consequências irreparáveis. Indico muito Ratos para quem gosta de histórias despretensiosas, com muito mistério, e de leitura rápida e fácil. 

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Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.

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