Abra Livros E Pernas

segunda-feira, 28 de julho de 2014
E aí que editorazinha de quinta achou por bem fazer um post em sua fan page ridicularizando a foto da Valesca lendo Madame Bovary. Não satisfeita, postou também uma imagem instruindo suas seguidoras a "abrirem livros, e não as pernas". Sem links, porque não sou de dar ibope pra tosqueira, mas dá para ver nos prints abaixo.





Primeiro de tudo, nem vou comentar o absurdo que é uma editora ridicularizar o fato de uma figura pública, que fala com os jovens, aparecer lendo um livro e incentivando seus fãs a fazerem o mesmo. Segundo que eu morro de preguiça deste discurso "sou intelectual, gosto de ler, então sou assexuado porque os livros me bastam". Terceiro que eu acho essa cagação de regra com o comportamento alheio de uma burrice extrema, e que vai totalmente ao encontro da liberdade de ideias que uma editora deveria promover. Me desculpe, mas moralismo e puritanismo são coisas de quem tem mente fechada, o que não deveria ser o caso de pessoas que gostam de ler e incentivam a leitura.

Uma vez eu li um livro bobinho da Lauren Conrad chamado L.A Candy. A história em si não era nada demais, um YA meio descartável como tantos outros. Porém, o maior mérito do livro de Conrad foi o de me apresentar a personagem Scarlet, melhor amiga da protagonista. 

Scarlet era totalmente diferente das mocinhas dos YAs: ela era estudante de letras, devorava livros como se fossem balinhas, conhecia todos os clássicos e os lia no idioma original de publicação. Além disso tudo, tinha tempo para ir para as noitadas caçar homens e praticar sexo casual. Como não queria se envolver, transar com totais desconhecidos foi a forma que ela encontrou de suprir seus desejos sem abrir mão da própria liberdade. E eu achei a personagem genial, justamente por esta peculiaridade! Estava bem cansada de ler sobre virgenzinhas nerds que vivem com a cara enfiada dentro dos livros e não têm vida sexual alguma, como se o fato de gostar de ler necessariamente implicasse "ser santa", com todas as aspas possíveis.

Scarlet passou a ser o meu modelo a partir de então, pois, ridícula que sou, tomo personagens de livros YA como exemplos de vida quando me identifico com elas. Não que eu me identifique integralmente com a personagem de Conrad: ainda estou há anos-luz de distância de Scarlet quando o assunto é ser bem-resolvida. Mas só de beber, andar de saia curta, dizer o que penso e falar palavrão como se fosse vírgula acho que eu já me distancio bastante do estereótipo construído em torno de meninas que gostam de ler

Acho que aqui a gente volta àquela discussão boba sobre ler x ser inteligente né? Vejo este esnobismo em muitos blogs literários, e mesmo em leitores "anônimos", e acho tudo isso muito sem sentido, porque o simples fato de gostar de ler não nos torna automaticamente pessoas irrepreensíveis. Não, meu bem. Você não é melhor que a Valesca e seu Madame Bovary, quer ela leia ou não o clássico de Flaubert. E, não, meu bem, fazer sexo somente com seu namorado não te torna uma mulher mais digna de respeito do que a mocinha que dorme com desconhecidos no primeiro encontro. Dá para abrir livros E pernas e ser feliz assim, e não vejo razão para ser diferente. 



No mais, beijinho no ombro para quem acha que o mundo é preto e branco sem admitir tons de cinza, e para quem pensa que uma mulher deve escolher entre ser casta ou ser puta
Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.

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