O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst

segunda-feira, 7 de julho de 2014


Livros polêmicos sempre me atraem, por isso fiquei com vontade de ler O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst, assim que fiquei sabendo da sinopse (até comentei sobre o livro aqui). É um dos livros da fase obscena-erótica da autora, e o primeiro de Hilda Hilst que li. A sinopse é perturbadora à primeira vista: Lori Lamby é uma menina de 8 anos prostituída pelos pais para melhorar a situação financeira da família, já que a carreira de escritor de seu pai vai de mal a pior. Ela descreve todas as suas experiências sexuais cruamente em seu caderninho rosa. Mas, no fim das contas, o livro acaba indo muito além das perversões de Lori.



O que choca muitos leitores é o fato de Lori não ser traumatizada, nem se sentir mal com a situação. Muito pelo contrário, o sexo parece ser uma grande fonte de prazer, e é descrito por ela de uma maneira bastante natural. Achei curioso, e me fez pensar que a gente só começa a pensar em sexo como algo sujo e pecaminoso depois de uma certa idade, por pura convenção social. 

Em tese, a história é narrada em primeira pessoa por Lori Lamby, porém em dado momento isso é questionado e surge uma nova possibilidade, para dar nó na cabeça do leitor. Não entrarei em detalhes para não dar spoiler, mas gostei da forma como Hilda Hilst construiu esse questionamento. 

Para mim, o assunto central de O Caderno Rosa de Lori Lamby não é a pedofilia, nem a prostituição. Isso tudo é apenas um pano de fundo para a verdadeira questão levantada por Hilda. Na verdade, o livro é um grande deboche da ganância do mercado editorial e do fato que o sensacionalismo, a polêmica e a pornografia vendem mais e têm mais espaço nas editoras do que os livros que são considerados realmente como literatura de qualidade. O pai de Lori personifica o escritor frustrado, que é deixado de lado porque o tipo de literatura que produz não vende, o que faz sucesso de verdade é o que ele chama de "bandalheiras". Achei brilhante a forma como Hilst sacaneia os editores que a desprezaram de uma forma tão inteligente e, ao mesmo tempo, tão sutil. 

Por tudo isso, acabei não ficando tão chocada quanto era de se esperar durante a leitura desse livro. Acredito que, para aproveitar a leitura de Lori Lamby, é preciso mergulhar no livro de mente aberta a todas as possibilidades. Me estendi mais no assunto e comentei minha experiência de leitura no vídeo sobre o livro de Hilst, e acho que vale muito a pena você assistir. ;)


O livro é super curtinho e fácil de ler (por conta da linguagem infantil utilizada pela personagem-título). Tem ilustrações sensacionais do Millôr Fernandes, que foi audacioso ao aceitar o trabalho, já que vários outros ilustradores recusaram na época. Fotografei alguns para mostrar mais ou menos como é o tom do livro.







Enfim, leitura mais do que recomendada para pessoas que amam a arte pela arte, têm mente aberta para histórias fora da caixinha e, sobretudo, para quem não se chocada com facilidade. Se você, como eu, preenche os requisitos, pode se jogar porque o livro é incrível

Alguém mais já leu? 
Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.

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