Lendo Pessoas em lugares improváveis

quarta-feira, 3 de setembro de 2014
(Ou: conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs...)

Conviver com uma mãe portadora de doença crônica fez de mim uma frequentadora assídua de hospitais desde a adolescência. E, se é que existe algo de bom nisso, é poder ter contato com exemplares bem diferentes desta fauna urbana. Hospitais reúnem pessoas de diferentes classes, gêneros e perfis, e é um bom exercício (principalmente para quem tem a comunicação e as relações interpessoais como métier). Havia esquecido disso e relembrei quando acompanhei meu pai no hospital por conta de uma cirurgia, e conheci várias pessoas inusitadas para o bem e para o mal. 

Um dos personagens mais inusitados nas minhas jornadas por hospitais com certeza foi Chester, o flautista. Rapaz encantador, de nome estranho e cabelo espetadinho para o alto, sempre sorridente, que ia de quarto em quarto alegrar os pacientes com sua música. Tocava O Mundo é um Moinho do Cartola, porque sabia que eu e minha mãe gostávamos, e, afinal de contas, porque ainda era cedo, amor, e mal começáramos a conhecer a vida.



Não são só hospitais que têm potencial de agregar gente inusitada em poucos metros quadrados. Elas estão em praticamente todo lugar. Jamais esquecerei do cara que entrou no Croasonho, que tem 500 sabores diferentes de croissants tentadores, e pediu um singelo croissant de queijo com presunto. Provavelmente o mesmo cara que pede sorvete de creme na loja especializada de Gelatos ou feijão com arroz no quilo gourmet.

Tem gente que puxa assuntos aleatórios no metrô. Tem gente que dá dicas de remédios caseiros para os mais diversos males no ônibus. Tem gente capaz de contar toda a sua biografia em uma sentada só, e tem até os fofos e fofas que perguntam o que eu estou lendo no meio da rua.

Por sinal, no mesmo andar em que eu trabalho há uma senhora que é tão louca por livros quanto eu, e pira nas minhas camisetas/ecobags literárias, ou nos livros que eu invariavelmente estou carregando para cima e para baixo. Batemos altos papos sobre romances policiais todas as vezes em que nos encontramos no elevador. Por sinal, ela é fã de James Patterson e Harlan Coben, e vive insistindo que eu preciso conhecer mais deles.

Às vezes eu esqueço o quanto é bom ler as pessoas em circunstâncias inusitadas, ou então é o estresse da vida que me faz esquecer. Seja como for, preciso voltar a exercitar este velho hábito. ♥
Fabiola Paschoal
Bibliófila, feminista, redatora, geek. Entusiasta das letras e das artes, adora quebrar estereótipos e dar opinião sobre qualquer assunto.

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